Para a jogadora, o Brasil tem talento de sobra, mas acaba ficando para trás de grandes seleções, como Estados Unidos, Espanha e Itália, pelo pouco investimento em estrutura e pela falta de atenção devida à modalidade por aqui.
“Se eu fosse falar em jogadoras, talento, tenho certeza que o Brasil é top 1, top 2 no mundo”.
A meio-campista vivenciou de perto a diferença no tratamento do esporte em outros países. Nos últimos anos, ela defendeu gigantes do futebol europeu, como Milan e Roma, da Itália, e Real Madrid, da Espanha. No início deste ano, decidiu que era hora de voltar para casa e ajudar no crescimento do futebol feminino no Brasil.
“Quase toda a minha carreira foi no exterior, então era o momento de voltar. Eu já tinha ouvido falar que o futebol daqui estava evoluindo bastante. O Flamengo me apresentou um belo projeto, e eu quis contribuir com o futebol brasileiro”.
Início “meteórico” e retorno ao Brasil
Em entrevista exclusiva ao Sambafoot, Thaisa afirma que a sua família sempre a apoiou no sonho de ser jogadora profissional de futebol. Ela diz que as coisas aconteceram muito rápido para ela, que teve o seu primeiro contato com a bola em quadras de futsal de sua escola, no Paraná, e, após uma experiência internacional, já estava na seleção.
“Eu comecei a jogar futebol de campo em um colégio dos Estados Unidos. Voltei para o Brasil e, quando vi, eu já estava na seleção brasileira. Foi tudo muito rápido. Recentemente, uma pessoa entrou em contato comigo perguntando se valia a pena ir. Eu disse: ‘Vai sem pensar’. O futebol lá é prioridade e você cresce não só esportivamente como pessoalmente também.”
Thaisa retornou para casa em 2011 e decidiu que jogar futebol realmente era a sua vocação. Ela, então, fez um teste em uma equipe local, já que naquela época não havia tantas equipes como nos dias de hoje.
“Quando eu voltei para o Paraná, tinha um time que era uma potência da época por lá: o Foz Cataratas. Eu fiz um teste na equipe e passei, e assim comecei a minha carreira profissional”.
Apenas dois anos depois do início da sua carreira profissional, Thaisa já defendia as cores da seleção brasileira. Tudo isso, é claro, chamou a atenção de clubes de fora e, entre 2014 e 2021, ela defendeu, além de clubes brasileiros, importantes clubes internacionais.
Brasil: muito talento, mas pouca estrutura
A volante do Flamengo jogou em países como Suécia, Islândia, Itália, Espanha e Estados Unidos. Para ela, a principal diferença no tratamento da modalidade nesses países em comparação ao Brasil é a estrutura oferecida às atletas.
Ao Sambafoot, Thaisa reitera que apenas o talento das nossas jogadoras não é suficiente para impulsionar a modalidade. A falta de bons centros de treinamentos para elas, por exemplo, ainda é um dos nossos pontos negativos. Thaisa assegura que, nessa questão, o Brasil ainda está muito atrasado.
“Se formos analisar estrutura, os Estados Unidos estão na frente de todo mundo. Espanha e Itália também estão muito evoluídos. Hoje, no Brasil, é difícil a gente achar equipes femininas que possuem o seu próprio centro de treinamento, por exemplo”.
Olimpíadas, Copa e expectativas sobre a seleção
Thaisa ficou perto de conseguir um título de Olimpíadas e de Copa com a seleção brasileira. Ela fez parte e foi uma das principais jogadoras do Brasil nos Jogos Olímpicos de 2016 e na Copa de 2019. O que falta para que um título desse venha para o país?
“Se eu soubesse o segredo, eu contaria para a Pia (Sundhage, técnica da seleção) hoje mesmo. Mas eu acho que tem que começar pelo investimento em melhores estruturas, porque assim a gente vai desenvolver melhor as nossas atletas”.
Há vida sem Marta?
Quando falamos de seleção brasileira feminina, a primeira coisa que muitas pessoas pensam é na craque Marta. A camisa 10 da amarelinha é considerada uma das melhores jogadoras da modalidade de todos os tempos, mas, em breve, deve se aposentar. Como ficarão as coisas sem ela?
“Sem dúvida nenhuma, a Marta é a Marta. Nunca vai existir outra. O futebol é isso, nós também tivemos jogadores no futebol masculino que foram únicos. Mas eu tenho certeza que, se a gente focar em estrutura no futebol feminino, vão surgir outras ‘Martas’ no futuro”.
Evolução do futebol feminino e o futuro
Thaisa celebra o aumento de visibilidade que o futebol feminino teve nos últimos anos no país. De acordo com a jogadora, isso é importante porque traz, também, dinheiro que pode ser investido para ajudar a modalidade a seguir crescendo.
A seleção brasileira vem em uma fase de renovação desde que a técnica sueca Pia Sundhage assumiu a equipe, em 2019. Desde então, Thaisa perdeu espaço nas convocações, mas diz que, hoje, o seu foco é outro.
“Se chegar uma convocação no futuro, eu vou ficar muito feliz. Mas o meu foco hoje é o Flamengo”.
Sobre aposentadoria, Thaisa afirma que pensava em encerrar a carreira no fim do ano passado. Mas a proposta do Flamengo e um conselho de um amigo a fizeram mudar de ideia. Ela não sabe quando vai parar, mas pensa em seguir no futebol de qualquer maneira.
“Hoje eu não penso mais em parar de jogar, mas tenho vontade de encerrar a carreira no Flamengo. A minha vida inteira foi futebol, então eu pretendo continuar no meio quando me aposentar”.
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