sexta-feira, 15 de julho de 2022

Livro reúne personalidades do futebol em busca de uma nova visão para o esporte

O que fazer para que o futebol brasileiro seja, de fato, ferramenta de inclusão e transformação da sociedade? Como desenvolver a indústria de forma ampla, para além das 4 linhas? O que a SAF reserva aos clubes brasileiros e quais os entraves para que uma gestão moderna e eficiente seja implantada? Como as marcas de um dos maiores patrimônios brasileiros podem ser valorizadas, gerando retorno comparado ao que se vê no mundo?

Buscar respostas para essas e outras perguntas foi o apito inicial para que João Paulo Medina, Heloisa Rios e Rafael Lacerda, sócios da Universidade do Futebol, compusessem um mosaico de visões e vivências de 66 nomes, craques dentro e fora das quatro linhas, na obra “Muito Além da Bola - O Futebol que Transforma”. O livro foi lançado ontem (14/07), durante a programação da Confut Sudamericana, em São Paulo (SP).

A obra traz insights e explora a vivência de craques como Alex de Souza (ex-Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro e Fenerbahçe, atualmente treinador), Aline Pelegrino (ex-jogadora e coordenadora de Competições Femininas da CBF, Fernandinho (ex-Manchester City, recém-contratado pelo Athletico-PR), Fernando Diniz (técnico do Fluminense), Mauro Silva (campeão do mundo em 1994 e atual vice-presidente da Federação Paulista de Futebol), Paulo Roberto Falcão (ex-atleta e treinador) e de gestores como Ana Lorena (coordenadora de Futebol Feminino da Federação Paulista de Futebol), Alexandre Matos, Constantino Júnior (vice-presidente  da Liga do Nordeste), Daniela Alves, Michel Mattar (Líder de Projetos na CBF Academy), Rodrigo Caetano, Rui Costa e Paulo André, dentre outras personalidades do esporte.

O elenco de “Muito Além da Obra” começou a ser formado em 2020, em plena pandemia, momento em que Medina, Rios e Lacerda decidiram criar o Fut Talks, conversa semanal com nomes de peso do futebol transmitida pelo canal da Universidade do Futebol no Youtube. “Logo nas primeiras transmissões compreendemos o valor do conteúdo que estava sendo produzido. Quando completamos 45 episódios, tivemos a certeza de que as trocas e reflexões geradas pelo programa deveriam ser reunidas numa obra que tratasse de forma multidisciplinar os gargalos e oportunidades do futebol brasileiro”, relembra Heloisa.

As 176 páginas são organizadas seguindo o rito de uma partida de futebol, iniciando-se na preleção, passando pelo tempo regulamentar, prorrogação, pênaltis e desembocando no VAR, uma brincadeira com o suporte tecnológico que a cada final de semana é personagem nas mesas-redondas Brasil afora.

DESIGUALDADE E FALTA DE ASSISTÊNCIA

No Brasil, a indústria do futebol é responsável por 0,72% do PIB, número aquém do seu potencial. Baseada em uma pesquisa, a publicação conclui que a riqueza gerada pelo esporte poderia ser o dobro da atual, ampliando significativamente os atuais 156 mil postos de trabalho vinculados à atividade. “Apesar de todos os entraves que serão citados ao longo das próximas páginas, estamos convencidos de que o cenário é bastante promissor para o crescimento do futebol no Brasil”, avalia Rafael.

Mesmo sendo uma arena de cifras milionárias, o futebol abre seus portões para poucos convidados. “Pelos nossos levantamentos históricos, somente 0,03% de todos que começam no futebol se tornam profissionais. Desses, 55% recebem até um salário-mínimo. A renda poderia crescer, por exemplo, com atletas que fossem formados não só dentro, mas também fora do campo”, destaca Medina.

Um dos caminhos é a reformulação na cultura organizacional dos clubes, fazendo com eles se preocupem com o que acontece fora das quatro linhas. “Para a maior parte dos jogadores falta assistência. Não estamos falando apenas de questões de assistência médica ou trabalhista, mas da falta de compromisso com o desenvolvimento dos atletas, o que inclui a educação. Há casos de jogadores semianalfabetos, com dificuldade até para assinar as súmulas”, exemplifica Medina.

O ex-jogador Ruy Bueno Neto, o Ruy Cabeção, exemplifica didaticamente esse quadro em uma passagem do livro. “Um ex-companheiro, em um trabalho técnico de finalização, precisava entrar em diagonal. Seguidamente, ele fazia o movimento errado, embora o treinador explicasse várias vezes. Até que ele chegou perto de mim e falou: ‘o que é diagonal?”, conta.

Na visão dos especialistas, é fundamental uma mudança profunda no modelo em vigor, que se reflete em baixo investimento nas categorias de base, falta de espírito coletivo entre os clubes, resistência ante novas tecnologias e, principalmente, má gestão. “Um dos maiores gargalos são as constantes rupturas nas gestões dos clubes, entidades associativas em que os conselhos deliberativos têm muito poder. Existem grupos rivais que se alternam na direção e a regra é desprezar tudo que o antecessor fez. É algo impensável quando se tem em vista um planejamento consistente de longo prazo”, alerta Heloisa.

“TIVE SORTE”

“Muito Além da Bola - O Futebol que Transforma”, contudo, traz exemplos de atletas bem-sucedidos. São cases de sucesso em um universo onde a glória e a queda compõem um roteiro mais comum do que se imagina. “O futebol transformou completamente a minha vida”, afirma Mauro Silva, explicando que o esporte o possibilitou estudar em um colégio de excelência e ter uma formação sólida. Logo adiante, ele conclui: “Eu tive sorte”.

São histórias que servem para embasar o argumento de que as mudanças no futebol nacional devem ser profundas e que, uma vez realizadas, fazem com que o esporte mais popular entre os brasileiros seja, de fato, ferramenta transformadora da sociedade.

SOBRE OS AUTORES

João Paulo Medina é professor de Educação Física, com Mestrado em Filosofia da Educação. Em 2020, completou 50 anos de atividades profissionais e continua à frente (presidente do conselho) da instituição Universidade do Futebol onde atualmente desenvolve trabalho de pesquisas nas áreas de humanidades e pensamento sistêmico relacionados ao futebol.

Heloisa Rios é especialista em Estratégia e Transformação de Negócios, Conselheira e Executiva com experiência em mais de 40 países. CEO da Universidade do Futebol. Co-fundadora do 1º Market Place de Futebol do Brasil. Formação na UFMG, FDC, ESPM, IBGC, CRANFIELD, WHARTON E CAMBRIDGE. Apaixonada pela transformação do futebol.

Rafael Lacerda é Sócio da Universidade do Futebol. Sócio-fundador da Lacerda Diniz Sena Advogados, desde 1998. Atua nas áreas de Direito Societário, de Fusões e Aquisições, de Planejamento Sucessório e Patrimonial.

SOBRE A UNIVERSIDADE DO FUTEBOL

A Universidade do Futebol é uma instituição criada em 2003 que estuda, pesquisa, produz, divulga e propõe mudanças nas diferentes áreas e setores relacionados ao universo do futebol, enquanto atividade econômica e importante manifestação de nosso patrimônio cultural, nas dimensões socioeducativas e no alto rendimento, e que conquistou nos últimos anos o reconhecimento e credibilidade da comunidade do futebol.

SERVIÇO

Muito Além da Bola - O Futebol que Transforma

·       João Paulo Medina, Heloisa Rios e Rafael Lacerda

·       Efe Editores e Literare Books Internacional

·       176 páginas

·       R$ 59,90

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