O que fazer para que o futebol brasileiro seja, de fato, ferramenta de inclusão e transformação da sociedade? Como desenvolver a indústria de forma ampla, para além das 4 linhas? O que a SAF reserva aos clubes brasileiros e quais os entraves para que uma gestão moderna e eficiente seja implantada? Como as marcas de um dos maiores patrimônios brasileiros podem ser valorizadas, gerando retorno comparado ao que se vê no mundo?
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para essas e outras perguntas foi o apito inicial para que João Paulo Medina,
Heloisa Rios e Rafael Lacerda, sócios da Universidade do Futebol, compusessem um
mosaico de visões e vivências de 66 nomes, craques dentro e fora das quatro
linhas, na obra “Muito Além da Bola - O Futebol que Transforma”. O livro foi
lançado ontem (14/07), durante a programação da Confut Sudamericana, em São
Paulo (SP).
A obra traz
insights e explora a vivência de craques como Alex de Souza (ex-Coritiba,
Palmeiras, Cruzeiro e Fenerbahçe, atualmente treinador), Aline Pelegrino (ex-jogadora
e coordenadora de Competições Femininas da CBF, Fernandinho (ex-Manchester City,
recém-contratado pelo Athletico-PR), Fernando Diniz (técnico do Fluminense),
Mauro Silva (campeão do mundo em 1994 e atual vice-presidente da Federação
Paulista de Futebol), Paulo Roberto Falcão (ex-atleta e treinador) e de
gestores como Ana Lorena (coordenadora de Futebol Feminino da Federação
Paulista de Futebol), Alexandre Matos, Constantino Júnior (vice-presidente da Liga do Nordeste), Daniela Alves, Michel
Mattar (Líder de Projetos na CBF Academy), Rodrigo Caetano, Rui Costa e Paulo
André, dentre outras personalidades do esporte.
O elenco de “Muito
Além da Obra” começou a ser formado em 2020, em plena pandemia, momento em que Medina,
Rios e Lacerda decidiram criar o Fut Talks, conversa semanal com nomes de peso
do futebol transmitida pelo canal da Universidade do Futebol no Youtube. “Logo
nas primeiras transmissões compreendemos o valor do conteúdo que estava sendo produzido.
Quando completamos 45 episódios, tivemos a certeza de que as trocas e reflexões
geradas pelo programa deveriam ser reunidas numa obra que tratasse de forma
multidisciplinar os gargalos e oportunidades do futebol brasileiro”, relembra Heloisa.
As 176 páginas são
organizadas seguindo o rito de uma partida de futebol, iniciando-se na
preleção, passando pelo tempo regulamentar, prorrogação, pênaltis e
desembocando no VAR, uma brincadeira com o suporte tecnológico que a cada final
de semana é personagem nas mesas-redondas Brasil afora.
DESIGUALDADE E
FALTA DE ASSISTÊNCIA
No Brasil, a
indústria do futebol é responsável por 0,72% do PIB, número aquém do seu
potencial. Baseada em uma pesquisa, a publicação conclui que a riqueza gerada
pelo esporte poderia ser o dobro da atual, ampliando significativamente os
atuais 156 mil postos de trabalho vinculados à atividade. “Apesar de todos os
entraves que serão citados ao longo das próximas páginas, estamos convencidos
de que o cenário é bastante promissor para o crescimento do futebol no Brasil”,
avalia Rafael.
Mesmo sendo uma
arena de cifras milionárias, o futebol abre seus portões para poucos
convidados. “Pelos nossos levantamentos históricos, somente 0,03% de todos que
começam no futebol se tornam profissionais. Desses, 55% recebem até um
salário-mínimo. A renda poderia crescer, por exemplo, com atletas que fossem
formados não só dentro, mas também fora do campo”, destaca Medina.
Um dos caminhos
é a reformulação na cultura organizacional dos clubes, fazendo com eles se preocupem
com o que acontece fora das quatro linhas. “Para a maior parte dos jogadores
falta assistência. Não estamos falando apenas de questões de assistência médica
ou trabalhista, mas da falta de compromisso com o desenvolvimento dos atletas,
o que inclui a educação. Há casos de jogadores semianalfabetos, com dificuldade
até para assinar as súmulas”, exemplifica Medina.
O ex-jogador Ruy
Bueno Neto, o Ruy Cabeção, exemplifica didaticamente esse quadro em uma
passagem do livro. “Um ex-companheiro, em um trabalho técnico de finalização, precisava
entrar em diagonal. Seguidamente, ele fazia o movimento errado, embora o
treinador explicasse várias vezes. Até que ele chegou perto de mim e falou: ‘o
que é diagonal?”, conta.
Na visão dos
especialistas, é fundamental uma mudança profunda no modelo em vigor, que se
reflete em baixo investimento nas categorias de base, falta de espírito
coletivo entre os clubes, resistência ante novas tecnologias e, principalmente,
má gestão. “Um dos maiores gargalos são as constantes rupturas nas gestões dos
clubes, entidades associativas em que os conselhos deliberativos têm muito
poder. Existem grupos rivais que se alternam na direção e a regra é desprezar
tudo que o antecessor fez. É algo impensável quando se tem em vista um planejamento
consistente de longo prazo”, alerta Heloisa.
“TIVE SORTE”
“Muito Além da Bola
- O Futebol que Transforma”, contudo, traz exemplos de atletas bem-sucedidos.
São cases de sucesso em um universo onde a glória e a queda compõem um roteiro mais
comum do que se imagina. “O futebol transformou completamente a minha vida”,
afirma Mauro Silva, explicando que o esporte o possibilitou estudar em um
colégio de excelência e ter uma formação sólida. Logo adiante, ele conclui: “Eu
tive sorte”.
São histórias
que servem para embasar o argumento de que as mudanças no futebol nacional
devem ser profundas e que, uma vez realizadas, fazem com que o esporte mais
popular entre os brasileiros seja, de fato, ferramenta transformadora da
sociedade.
SOBRE OS AUTORES
João Paulo
Medina é professor de Educação Física, com Mestrado em Filosofia da Educação.
Em 2020, completou 50 anos de atividades profissionais e continua à frente
(presidente do conselho) da instituição Universidade do Futebol onde atualmente
desenvolve trabalho de pesquisas nas áreas de humanidades e pensamento sistêmico
relacionados ao futebol.
Heloisa Rios é
especialista em Estratégia e Transformação de Negócios, Conselheira e Executiva
com experiência em mais de 40 países. CEO da Universidade do Futebol. Co-fundadora
do 1º Market Place de Futebol do Brasil. Formação na UFMG, FDC, ESPM, IBGC,
CRANFIELD, WHARTON E CAMBRIDGE. Apaixonada pela transformação do futebol.
Rafael Lacerda é
Sócio da Universidade do Futebol. Sócio-fundador da Lacerda Diniz Sena
Advogados, desde 1998. Atua nas áreas de Direito Societário, de Fusões e
Aquisições, de Planejamento Sucessório e Patrimonial.
SOBRE A UNIVERSIDADE DO FUTEBOL
A Universidade
do Futebol é uma instituição criada em 2003 que estuda, pesquisa, produz,
divulga e propõe mudanças nas diferentes áreas e setores relacionados ao
universo do futebol, enquanto atividade econômica e importante manifestação de
nosso patrimônio cultural, nas dimensões socioeducativas e no alto rendimento,
e que conquistou nos últimos anos o reconhecimento e credibilidade da
comunidade do futebol.
SERVIÇO
Muito Além da Bola - O Futebol que Transforma
· João Paulo
Medina, Heloisa Rios e Rafael Lacerda
· Efe Editores e
Literare Books Internacional
· 176 páginas
· R$ 59,90
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